XIV Campeonato Brasileiro de Rugby em Cadeira de Rodas

Dia 0 (12/08)

Devido às normas de controle e prevenção contra a COVID-19, os atletas que disputarão o Campeonato Brasileiro de Rugby em Cadeira de Rodas terão que apresentar um teste negativo para poder competir. Os testes de nossa delegação poderiam ser realizados na sede do CETEFE ou na rede de saúde pública ou privada. Infelizmente, nosso atleta Barbosa testou positivo para a COVID-19 e não pode ser integrado à delegação, sendo isolado logo que recebeu o resultado do exame.

Essa baixa foi bastante sentida pela equipe, pois Barbosa foi um dos atletas que mais se dedicou aos treinamentos e estava extremamente empolgado para essa disputa. O caso do Barbosa serve de lembrete: A COVID-19 continua e os cuidados não devem ser relaxados.

Dia 1 (13/08)

E chegou o grande dia: a aventura do CETEFE como antes mesmo do início do campeonato! Na realidade, o começo é com a viagem. Esperávamos ir de avião, porém o negócio foi de ônibus mesmo. E para emoção ser ainda maior, era um do tipo double deck. Imagina só embarcar 11 cadeirantes numa escadinha minúscula e ainda por cima em espiral, sem falar em acomodar 24 cadeiras de rodas (11 de uso pessoal, 11 de jogo e 2 de banho)?!  Pobre dos nossos apoios – e também dos cadeirantes -. Depois de muitas emoções – foram muitas mesmo – com toda a equipe embarcada, o ônibus parte para o nosso destino. Mal partimos e já acontece um susto: o pneu do ônibus estoura e o que parecia ser uma simples troca de pneu se transformou numa saga, pois no ônibus não havia uma chave para trocar pneu! Nessa brincadeira, todos ficamos mais de duas horas parados na estrada esperando o socorro. Nossa sorte foi que o imprevisto aconteceu ainda próximo do aeroporto de Brasília.

Problema resolvido, a viagem seguiu madrugada adentro. A nossa chegada estava prevista para as 14h do dia 14, mas, por consequência do atraso, só chegamos por volta das 16h. Para você que não sabe como é uma viagem de mais de 17 horas com 11 cadeirantes, cabe aqui uma pequena explicação: em momento algum os cadeirantes saem do ônibus. Na verdade, eles sequer saem das suas poltronas para ir ao banheiro. O “número 1” é feito em sacos coletores ou garrafinhas mesmo. O “número 2”, bem… esse não se faz mesmo. Mas apesar de todos contratempos e perrengues a viagem foi bem animada e divertida. Rolou muitas conversas, contação de histórias, zuações e o riso correu solto durante o tempo percorrido.

Chegamos ao C.T Paralímpico! Agora é hora de desembarcar todo mundo e todos os equipamentos e bagagens. Parecia que nossos heróis finalmente iriam se recuperar da viagem e se prepararem para os desafios dos jogos, mas o check in foi bem confuso e a espera pelos quartos bastante demorada. Assim, antes mesmo de se acomodar nos quartos, a nossa delegação foi jantar. Somente perto das 21h, a saga desse dia chegou ao fim. Todos bastante cansados da longa viagem, mas ansiosos para começar a competir.

Dia 2 (14/08)

Esse é o primeiro dia efetivo do campeonato. Mas ainda não é o dia de começar a jogar. Bom… nesse dia acontece a classificação funcional dos novos atletas e a reclassificação dos atletas com mais tempo de classificação. Também acontece a checagem das cadeiras de jogo.

Dos nossos atletas foram chamados para classificação funcional: Tiago, Macarrão, Gil e o José Roberto. E é aqui que começa nossa história. Vamos começar com a boa notícia. Nosso atleta Gil, que de início tinha classificação funcional 1, caiu para 0.5! O nosso craque Macarrão manteve a classificação de 2. O José Roberto manteve sua classificação com 1.5, mas podendo ser revista em quadra. A má notícia ficou para o Tiago que era 1 e subiu para 1.5! Um verdadeiro despautério! Faltou dizer que na checagem das cadeiras, teve uma do nosso time que não foi aprovada. Assim, o José Roberto ficou impedido de jogar.

Após essas más notícias, um clima de decepção tomou conta do nosso esquadrão. O nosso aspirante a técnico – Tiago – até levantou a possibilidade de deixar as quadras definitivamente por conta do problema que é um jogador com as funcionalidades dele entrar em quadra como um 1.5. O problema da cadeira do José Roberto foi que a “churrasqueira” estava totalmente fora das especificações e teria que ser totalmente refeita. Como isso tudo aconteceu no domingo, não teve como deixar a cadeira do José Roberto apta para a estreia do time, que seria já no dia seguinte, segunda.

Dia 3 (15/08)

E chegou o dia: agora as cartas tinham que ser colocadas na mesa. O time entra em quadra às 10h30 contra os paulistas do MSB. Nossa equipe não poderia contar com José Roberto, pois sua cadeira ainda estava sendo preparada. O CETEFE iniciou o jogo com a seguinte formação: Antônio (5); Marlon (7); Macarrão (10); e Gil (15). O começo da partida pareceu promissor. Nosso time saiu na frente e trocou gols com o MSB até o meio do primeiro quarto, quando não conseguimos mais manter o mesmo ritmo que e o oponente, que começou a abrir grande vantagem.

Assim, o jogo passou a ter outro sentido e nosso treinador, Paulo, colocou todos os outros atletas disponíveis para rodar. Nos dois primeiros quartos entraram Mateus (12), Aline (9) e Vaninho (11), todos debutando em uma competição fora do Distrito Federal. O primeiro tempo ficou 31 x 12 para o MSB. Mesmo assim, o jogo ainda tinha muito para se aproveitar e dar experiencia de jogo a nossos guerreiros.

O segundo tempo começou, mas nosso time continuava com as mesmas falhas de antes, mas um fato importante aconteceu: os classificadores chegaram! Isso era a chance de observarem nosso Tiago (8) e finalmente dar a ele a classificação funcional justa. Por isso, o técnico Paulo o colocou em quadra. Pouco depois, entraram também o Severino (14) e a Andreza (3) e todos os jogadores que estavam disponíveis para esse jogo iniciaram sua jornada no XIV Campeonato Brasileiro de Rugby em Cadeira de Rodas.

O Placar final foi o que menos importou para nosso time, mas como temos que divulgá-lo para a informação ficar completa, o jogo encerrou 65 X 19 para o MSB. Agora, descansar e levantar a moral para o próximo confronto do dia. Mas ainda em quadra, recebemos uma notícia que reacendeu nosso ânimo: nosso até então 1,5 Tiago foi reclassificado como 0,5 após a observação de jogo em quadra.

Nosso próximo jogo começaria às 16h30, contra os capixabas do IREFES e até às 14h30 a cadeira de jogo do José Roberto não havia ficado pronta. Expectativas estavam criadas e angústias também. Após o almoço, uma pequena preleção aconteceu no vestiário e o time que iniciou o jogo anterior sofreu uma pequena alteração: Antônio deu lugar ao Mateus. A Cadeira de jogo do José Roberto chegou da oficina pouco antes do início dos trabalhos para a partida, dando tempo de o jogador ficar à disposição do time. Finalmente o CETEFE estava completo para a disputa.

O CETEFE iniciou a partida com Marlon (7), Macarrão (10), Mateus (12) e Gil (15). O time começou aparentemente nervoso e deu a oportunidade de o adversário abrir vantagem, mas logo pôs a cabeça no lugar e a partida ficou equilibrada. A qualidade técnica e experiência do time do Espírito Santo fizeram a diferença. Nossa equipe acabou por ser envolvida, não conseguindo manter o equilíbrio no placar, fechando o primeiro tempo em 29 x 11 para o IREFES.

No segundo tempo, nosso treinador colocou o time para rodar. Nossa equipe é formada com muitos jogadores novatos e por isso é preciso que eles adquiram experiência e condicionamento físico para que possam substituir nossos atletas mais graduados e manter a qualidade do time na quadra. Com a cadeira regularizada, José Roberto (44) finalmente pode estrear na competição. Só que o mais importante não aconteceu. Como nenhum classificador apareceu durante o jogo, não houve avaliação e, por isso, ele segue como 1,5. A superioridade do IREFES se refletiu no placar da partida, que acabou em 69 x 15.

Dia 4 (16/08)

Se pegarmos como parâmetro os resultado dos placares, o primeiro dia de competição foi catastrófico. Duas derrotas, podemos dizer, acachapantes: 65 x 19 para o MSM – 46 gols de diferença – e 69 x 15 para o IREFES – 54 gols a mais para eles! –. Porém, como já dito anteriormente, o CETEFE é um time de formação de atletas e na formação atual já podemos dizer que tem coisa boa nessa safra.  É só esperar maturar.

Hoje, nossa equipe entra em quadra apenas uma vez e será logo pela manhã, às 10h30. O oponente será os paranaenses do Titans – a grafia do nome do time se escreve assim mesmo –, que assim como nós, também saíram derrotados de seus dois primeiros confrontos. Nesse sentido, a partida ganhou ares de decisão, pois quem saísse vencedor, disputaria a decisão de terceiro lugar e jogaria mais duas partidas no dia seguinte.

Para esse jogo, nossa equipe começou com a formação que se tornou a principal durante a competição: Marlon (7), Macarrão (10), Mateus (12) e Gil (15). Pela primeira vez no campeonato, o time entrou concentrado e, além de iniciar o placar na frente, conseguiu manter a vantagem durante o primeiro tempo inteiro, que virou com o placar de 23 x 18.

O segundo tempo não foi diferente. Nossa equipe chegou a abrir uma vantagem de 11 pontos antes do fim do 3° quarto, que acabou em 36 x 27 para o CETEFE. Apenas no minuto final que ocorreram algumas substituições na equipe: entraram Aline e Vaninho no lugar de Marlon e Gil, e o placar da partida fechou em 45 x 41 para nós.

Finalmente a primeira vitória veio, e assim garantimos mais um jogo no dia seguinte. O time como um todo jogou muito bem e é até difícil apontar um destaque. Macarrão conduziu, com maestria, os outros jogadores. Marlon e Mateus mostraram para todo mundo para que vieram e Gil destruiu na defesa. Agora o time tinha uma tarde inteira para descansar e se preparar para a próxima peleia, que prometia ser duríssima.

Dia 5 (17/08)

E o último dia chegou! Agora era fazer mais dois jogos, preparar as malas e voltar para casa. O primeiro desafio é monstruoso: a tradicional ADEACAMP de Campinas, que só está na segundona devido a punições de caráter administrativo e jurídico. A equipe campineira é a franca favorita ao acesso para a elite do Rugby em cadeira de rodas nacional. Até aqui, foram três jogos e três vitórias. A ADEACAMP já está com vaga assegurada na decisão e o CETEFE na disputa do 3º lugar.

Notoriamente era um jogo para as duas equipes rodarem seus atletas e se prepararem para seus objetivos no campeonato. Assim, entramos com uma formação bem distinta da habitual. Começamos o jogo com Andreza (3), Antônio (5), Vaninho (11) e Severino (14). Bom… a partida só serviu mesmo para rodar o time e finalmente os classificadores foram observar o José Roberto em jogo. A ADEACAMP abriu incríveis 45 x 0 até o meio do terceiro quarto! Não podemos deixar de falar que o primeiro gol do CETEFE só saiu quando entraram em quadra o Macarrão e o Mateus.

O resultado do jogo ficou em 61 x 1. Um verdadeiro chocolate suíço – ou melhor, campineiro –. É claro que um resultado desses abala o moral de qualquer um, mas bola para frente que o nosso time base foi poupado para tentar uma revanche contra o MSB na disputa do 3° lugar que acontece logo mais a tarde. Da partida contra a ADEACAMP, a notícia boa foi que os classificadores viram o óbvio: o José Roberto não tem a mínima possibilidade de ser um 1,5 e acabou sendo reclassificado como 0,5, o que convenhamos é justíssimo.

E a tarde chegou. Com ela nosso último confronto. Na verdade, uma revanche. Será? No primeiro jogo, válido pela fase classificatória, o MSB ganhou bem: 65 x 19. Mas vale lembrar que era a nossa estreia e nosso time ainda não tinha se entrosado bem. Fomos com força total: Marlon (7), Macarrão (10) Mateus (12) e Gil (15). Pena que mais uma vez o timo entrou desconcentrado e deixou o MSB abrir 5 x 0 já no primeiro quarto, que terminou em 15 x 5 para os paulistas.

O primeiro tempo não foi bom para nossa equipe e quando faltavam 5m11s4c para acabar, com placar apontando para 20 x 7 para o MSB, nosso atacante Mateus é atingido com força pelo jogador Gerson (8) da equipe adversária. Na queda, nosso atleta teve um corte no supercílio e precisou ser levado ao hospital para fazer uma melhor avaliação. Assim, o primeiro tempo encerrou com o placar de 31 x 13.

Essa situação acabou por abalar o emocional do nosso time, o que ficou demonstrado no resultado do jogo que acabou em 58 x 27. Em relação ao primeiro confronto das duas equipes na primeira fase, notamos que houve uma evolução. As notícias que vinham do hospital em relação ao Mateus eram excelentes. O corte no supercílio lhe rendeu quatro pontos e vai virar uma cicatriz com uma boa história para contar.

A missão do CETEFE no XIV Campeonato Brasileiro de Rugby em Cadeira de Rodas chegou ao fim. Qual foi o resultado disso tudo? Vai depender do seu olhar. Para uns, os resultados não foram os melhores. Perdemos jogos de goleada; às vezes, nos mostramos perdidos em quadra, faltando controle emocional e mesmo qualidade técnica. Para outros, os resultados foram ótimos. Levamos atletas com pouco tempo de treino que demonstraram um enorme potencial para esse esporte, o que mantém nossa tradição de equipe formadora de talentos.

Motivos para desaminar temos sim, mas temos muito mais motivos de nos renovar e seguir em frente. Precisamos que nossos atletas acreditem em si, invistam em si e se dediquem para alcançar seus objetivos esportivos pessoais. É no crescimento individual que toda nossa equipe vai crescer. Esse campeonato, para mim, termina como uns versos da música da banda Los Hermanos, composta por Marcello Camello entitulada “Vencedor”, que diz assim:

“Olha lá quem acha que perder é ser

Menor na vida

Olha lá quem sempre quer vitória

E perde a glória de chorar

Eu que já não quero mais

Ser um vencedor

Levo a vida devagar

Pra não faltar amor

Eu que nunca fui assim

Muito de ganhar

Junto as mãos ao me redor

Faço o melhor que sou capaz

Só pra viver em paz”